sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Educação Ambiental é primordial


O Portal Educar-se reproduz alguns trechos da Entrevista que o Professor José Bezerra, concedeu ao Caderno Bem Estar, do Jornal da Cidade.

Ligado à área de educação ambiental há mais de 20 anos, o professor e coordenador de projetos ambientais José Bezerra nos relata um pouco da sua experiência e mostra quanto os projetos ambientais podem despertar nos jovens sentimentos para o bom uso e preservação dos recursos naturais. Em época de efeito estufa e aquecimento global, é comum a mídia explorar nos seus noticiários relatos apontando a importância da preservação e conscientização dos recursos naturais. Contudo, esses constantes apelos têm surtido pouca ou quase nenhuma diferença entre a população. E este fenômeno é explicado pelos especialistas como resultado do pouco incentivo de práticas de ensino aos jovens e crianças direcionadas ao bom uso e cuidado dos materiais de origem orgânica. Para falar um pouco mais sobre esse assunto e entender o quanto é importante cultivar, desde as mais tenras gerações, o respeito e amor pela natureza, o Bem Estar conversou com o professor e educador de projetos relacionados ao meio ambiente, José Bezerra.

Bem Estar - Como surgiu o seu interesse em desenvolver projetos ligados à área ambiental?
José Bezerra - Fui criado em fazenda, sempre fui um bicho do mato o tempo todo. Por isso, como sempre gostei de mato, animais, árvores e tudo isso, estudei mais a fundo sobre esta área e percebi que poderia manter vínculo com este meio. No Colégio Arquidiocesano, comecei a lecionar matérias como Biologia, Química e Física e, depois de ter passado no vestibular de Biologia, fui convidado para novamente dar aulas e já estou na escola há mais de 20 anos. Mas, no início, ainda não havia desenvolvido nenhum projeto ambiental concretamente, só fazia, de vez em quando, aulas diferenciais como trilhas na Serra de Itabaiana, onde tive a oportunidade de me aproximar do Ibama. Desse meu contato com a instituição, foi que surgiu a indicação do meu nome para realizar um projeto ambiental na Fazenda Boa Luz que não possuía, até então, nenhuma explicação acerca de sua fauna e flora.

BE - De que forma os projetos ambientais podem inserir valores de preservação e consciência ecolóca nas crianças?
JB - Nós sabemos que quando a gente não conhece ou não convive próximo a alguma coisa, acabamos dando pouca importância para esta coisa. Nós jamais iremos defender algo de que a gente não goste ou não conheça. Por isso, acredito que a educação ambiental é algo primordial, imperativo, extremamente necessária para a formação dos jovens. Tanto a educação ambiental formal inserida no âmbito interdisciplinar ou multidisciplinar da escola, como a educação ambiental não-formal, focada no desenvolvimento de atividades ligadas à comunidade em geral.

BE - Como eram as atividades desses projetos pedagógicos ambientais que o senhor já coordenou.
JB - No Colégio Arquidiocesano, eu vinha desenvolvendo um trabalho de educação ambiental de forma individualizada, apenas levando os alunos para fazerem as revisões do vestibular ou trilhas na Serra de Itabaiana. Havia um incentivo da escola, mas ainda era algo um pouco restrito. Só depois dos projetos desenvolvidos na Boa Luz, como o Vale dos Dinossauros e o Mundo dos Insetos e a sua repercussão tanto dentro do Estado e até nacionalmente através das reportagens do jornal O Globo e do programa da Xuxa, foi possível chamar a atenção da coordenação do colégio. Assim, eles me fizeram um convite para montar um projeto, utilizando o espaço de um terreno baldio, vizinho ao Arqui-Farolândia. Foi desta iniciativa que nasceu o Projeto Cheirinho de Mato, pioneiro no Estado no desenvolvimento de atividades ligadas à área de educação ambiental.

BE - Como foi a recepção pelas crianças?
JB - Na Boa Luz, durante o tempo em que estive por lá, recebemos mais de 12 mil alunos de escolas públicas e particulares, que agendavam visitas com a duração de um dia para uma vivência ecológica ou um acampamento ecológico durante o fim de semana. Eram diversas atividades que desenvolvíamos neste passeio, a fim de possibilitar aos alunos um contato direto com a natureza. Certa vez, o pessoal da Boa Luz me pediu que eu levasse cobras para o acampamento e, apesar de isso assustar um pouquinho, todos gostaram muito. Também no Colégio Arquidiocesano, durante as revisões do vestibular ou durante as aulas de botânica na Serra de Itabaiana, eu notava muita empolgação por parte dos alunos.

BE - Depois da implantação desses projetos no meio escolar, houve alguma melhora ou mudança de atitude das crianças quanto ao uso dos recursos naturais?

JB - Sim, com certeza. A prática, o contato com o meio ambiente e os recursos naturais transformam qualquer pessoa, inclusive os jovens que ainda estão em processo de formação da personalidade e do seu caráter.

BE - Depois que o Arqui recebeu o prêmio sócio-ambiental brasileiro, houve uma maior procura das instituições de ensino privadas para a inserçãode projetos ligados à educação ambiental?
JB - Com relação à implantação de projetos fixos e contínuos, ainda é pouca a procura das escolas particulares por este tipo de atividade. De vez em quando, sou convidado por uma instituição a participar de palestras e discussões sobre assuntos ligados ao meio ambiente, mas nada muito além disso. Sinto um interesse maior, com relação a estes projetos, por parte das escolas públicas tanto da capital quanto do interior do Estado.

BE - Há incentivo das autoridades governamentais para o desenvolvimento de projetos ligados ao meio ambiente nas escolas públicas?

JB - Ainda é tímido o incentivo. Na verdade, muito do meu trabalho e de outras pessoas engajadas também neste meio é mobilizar pessoas da área política e empresarial para desenvolverem leis, a partir das necessidades que enfrentamos na prática durante a nossa luta de preservação da natureza.

BE - Atualmente, que projetos ecológicos o senhor está coordenando?

JB - Continuo coordenando o projeto Cheirinho do Mato, que possui um laboratório ao ar livre, com 6.300 m² e composto por um moinho de vento, uma horta com oito canteiros, uma farmácia viva de plantas medicinais de diversas espécies, um minhocário (cultivo de minhocas), uma oficina de reciclagem que trabalha com plástico e metal, uma fazendinha com coelhos, patos, marrecos, pavão e até animais silvestres como jabutis, que recebemos através de doação, mediante autorização do Ibama. Além disso, coordeno o Projeto de Educação Ambiental Yázigi, do Yázigi Internexus, onde firmamos parceria com a WWF e juntos vamos desenvolver a Campanha de Cidadania Terra Viva.


Fonte - JC/Bem Estar