Por trás da máscara de protetora da fauna, a fazendeira Beatriz Rondon promovia safáris em sua fazenda, recebendo caçadores que pagavam 30 000 dólares para matar onças-pintadas.
Nota da Redação do Planeta Sustentável: No dia 23 de maio, portanto depois da publicação desta reportagem da revista Veja, a fazendeira Beatriz Rondon recebeu mais duas multas da Divisão de Proteção Ambiental do Ibama em Brasília. A primeira, de R$ 15 mil, foi aplicada por caça profissional. A segunda, de R$ 100 mil, teve como motivo os danos a Unidades de Conservação que a proprietária causou. Estas duas foram baseadas no decreto 6514 de 2008. No total, o Ibama aplicou R$ 220 mil de multas nesta operação à Fazenda Santa Sofia, que fica no pantanal do Rio Negro em Mato Grosso do Sul.
Beatriz Rondon, dona de uma fazenda de 35 000 hectares no Pantanal de Mato Grosso do Sul, era citada como um exemplo de protetora da fauna, principalmente das onças-pintadas. Ex-presidente da Sociedade para a Defesa do Pantanal e parceira de ONGs ambientalistas como a Conservação Internacional, ela dizia defender, em suas palavras, "a natureza e a cultura pantaneiras". Na semana passada, revelou-se que a militância ecológica de Beatriz era uma farsa e que, há pelo menos quinze anos, ela ganhava muito dinheiro permitindo a caça às onças-pintadas numa fração de sua fazenda que constitui reserva privada natural estadual. Isso é crime. A lei proíbe qualquer tipo de caça em território nacional. Um vídeo entregue à Polícia Federal, em denúncia anônima, mostra que ela recebia visitantes, a maioria deles estrangeiros, que pagavam 30 000 dólares para abater onças a tiros. O pacote incluía um jato particular para levar os caçadores até o Pantanal, armas, guias especializados e estadia em pousadas, como a que fica na propriedade de Beatriz. Às vezes, ela própria atuava como guia para rastrear os animais na mata, com a ajuda de cães.
O vídeo, de quarenta minutos, ao qual VEJA teve acesso na íntegra, chama-se In the Tracks of Big Cats (Nos Rastros de Grandes Felinos). Narrado em inglês, o texto descreve "as maravilhas da caça à onça" nas terras de Beatriz e as imagens incluem cenas chocantes de felinos encurralados em árvores e mortos a espingarda. A certa altura do vídeo, Beatriz sorri quando vê uma onça morrer e diz: "É uma grande fêmea, muito bonita, e estava comendo minhas vacas aqui". Detalhe: Beatriz foi uma das beneficiadas de um programa de proteção às onças da Conservação Internacional que, até 2004, pagou a pecuaristas 200 dólares por cada rês de seus rebanhos morta pelos felinos.
O vídeo deflagrou uma operação da Polícia Federal e do Ibama que culminou com a vistoria da fazenda no último dia 5. Os agentes encontraram dois crânios de onça, dezesseis galhadas de cervo, uma pele de sucuri, nove armas e munição importada. Beatriz, que não estava no local, foi multada pelo Ibama em 105 000 reais e deve receber outra multa de 100 000 reais. A PF abriu um inquérito em que a acusa de formação de quadrilha, crime ambiental e tráfico internacional de armas de fogo. Em teoria, seria o suficiente para uma pena superior a dez anos de prisão. A falsa ambientalista, de 69 anos, é sobrinha-neta do marechal Cândido Rondon, o sertanista que no início do século passado desbravou o interior do país para construir linhas telegráficas e traçar mapas. Ele é reconhecido como protetor dos índios e da natureza. Mas pode ter sido também caçador de onças. Admite Rene Siufi, advogado de Beatriz: "É uma tradição familiar. O avô e o pai caçavam". Segundo a PF, o irmão de Beatriz também promove caçadas em outra fazenda, onde possui jaulas para manter animais vivos. Siufi alega, porém, que sua cliente não participava de safáris fazia "pelo menos dez anos".
É a segunda operação desse tipo que a PF e o Ibama promovem em menos de um ano. Há dez meses, uma escuta telefônica levou os agentes a uma fazenda em Sinop, em Mato Grosso. Na escuta, um estrangeiro pedia a um dos organizadores de safáris "uma fazenda no Pantanal que tenha onça e em que eu possa caçar". As caçadas ocorriam em reservas e fazendas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. O grupo já tinha matado28 onças no Brasil. Na operação, foram presas onze pessoas, incluindo quatro turistas argentinos, um paraguaio e um policial militar que participava da organização das matanças.
Apesar de proibidos, os safáris de caça às onças são comuns no país. Diz Luciano Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama: "Usa-se o pretenso turismo ecológico como fachada para as caçadas no Pantanal e na Floresta Amazônica. A atividade rende aos criminosos muito dinheiro, sem risco de punição. Mesmo se pegos em flagrante, os caçadores não passam nem um dia na cadeia, já que podem trocar a pena por serviço comunitário ou cestas básicas. As multas ambientais também são desprezadas". É muito provável que Beatriz, a caçadora de onças em pele de ambientalista, fique impune.
O vídeo deflagrou uma operação da Polícia Federal e do Ibama que culminou com a vistoria da fazenda no último dia 5. Os agentes encontraram dois crânios de onça, dezesseis galhadas de cervo, uma pele de sucuri, nove armas e munição importada. Beatriz, que não estava no local, foi multada pelo Ibama em 105 000 reais e deve receber outra multa de 100 000 reais. A PF abriu um inquérito em que a acusa de formação de quadrilha, crime ambiental e tráfico internacional de armas de fogo. Em teoria, seria o suficiente para uma pena superior a dez anos de prisão. A falsa ambientalista, de 69 anos, é sobrinha-neta do marechal Cândido Rondon, o sertanista que no início do século passado desbravou o interior do país para construir linhas telegráficas e traçar mapas. Ele é reconhecido como protetor dos índios e da natureza. Mas pode ter sido também caçador de onças. Admite Rene Siufi, advogado de Beatriz: "É uma tradição familiar. O avô e o pai caçavam". Segundo a PF, o irmão de Beatriz também promove caçadas em outra fazenda, onde possui jaulas para manter animais vivos. Siufi alega, porém, que sua cliente não participava de safáris fazia "pelo menos dez anos".
É a segunda operação desse tipo que a PF e o Ibama promovem em menos de um ano. Há dez meses, uma escuta telefônica levou os agentes a uma fazenda em Sinop, em Mato Grosso. Na escuta, um estrangeiro pedia a um dos organizadores de safáris "uma fazenda no Pantanal que tenha onça e em que eu possa caçar". As caçadas ocorriam em reservas e fazendas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. O grupo já tinha matado
Apesar de proibidos, os safáris de caça às onças são comuns no país. Diz Luciano Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama: "Usa-se o pretenso turismo ecológico como fachada para as caçadas no Pantanal e na Floresta Amazônica. A atividade rende aos criminosos muito dinheiro, sem risco de punição. Mesmo se pegos em flagrante, os caçadores não passam nem um dia na cadeia, já que podem trocar a pena por serviço comunitário ou cestas básicas. As multas ambientais também são desprezadas". É muito provável que Beatriz, a caçadora de onças em pele de ambientalista, fique impune.