domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lixo Extraordinário

Sustentabilidade premiada no Oscar, desde 1947 Filmes sobre temas socioambientais levam, há mais de 60 anos, o Oscar de melhor documentário. Conheça um pouco desta história e torça para o brasileiro “Lixo Extraordinário”, que concorre este ano (ainda que a estatueta não venha para o Brasil, já que a diretora e o produtor são ingleses)


Para as gerações mais novas, o mais importante documentário sobre a questão socioambiental foiUma Verdade Inconveniente, que levou o Oscar da categoria em 2007. Não só o tema era momentoso - seu produtor, Al Gore, militou 20 anos no Congresso americano em favor da proteção da natureza e já havia sido vice-presidente dos Estados Unidos e candidato à sua presidência (vencido por George W. Bush, para azar do ambiente, e da humanidade). Neste ano, um brasileiro concorre ao prêmio. Ele é o brilhante e mundialmente conhecido artista plástico Vik Muniz, que concorre com Lixo Extraordinário (Waste Land). Tem grandes chances, mas se ganhar, a estatueta de Hollywood não deverá vir para o Brasil. Sua diretora, Lucy Walker, é inglesa. E o produtor, Angus Ainsley, também.

Para mostrar como os temas socioambientais não são uma preocupação recente, na telona, coletamos muitos dos ganhadores do “Oscar de Melhor Documentário” com temas que se encaixam no espírito do nosso movimento - Planeta Sustentável -, ou pelo menos os mais importantes deles.

Já em 1947, um documentário sobre a pobreza e a desigualdade na Europa pós Segunda Guerra era indicado ao Oscar, provocando fortes reações. Era O Mundo é Rico (The World is Rich), dirigido por Paul Rothka. O filme mostra a devastação no teatro principal da guerra e condena o excesso de consumo e os produtos de luxo transacionados no mercado negro, enquanto o povo era submetido a um severo racionamento de alimentos que, em alguns países, como a Inglaterra, se estenderia até o começo dos anos 1950. Mas há, no filme, uma ironia: ele promovia um ideal da FAO, agência da ONU para a agricultura e alimentos, de industrialização da agricultura para alimentar o mundo - a mesma FAO que, hoje, prega a agricultura sustentável e de pequenas propriedades. A agricultura em grande escala, como sabemos, resultou em imensos dano colaterais. Na época, porém, esta não era uma questão.

Logo no ano seguinte, um documentário sobre a natureza conseguia levar a estátua. Produzido pela MGM e pela marinha americana, A Terra Secreta (The Secret Land) documenta a maior expedição feita até então para explocar a Antártica. Dela participaram 13 navios, 23 aviões e cerca de 4700 homens, e a fotografia foi feita por diversos militares de todas as armas. Um de seus propósitos era explorar centenas de milhares de metros quadrados de terra não explorados e que ainda não haviam sido mapeados. A única preocupação sobre o ambiente, ou condições locais, foi avaliar se, nela, as forças dos EUA poderiam enfrentar um adversário com sucesso.

Já em 1949, o prêmio foi para Amanhecer em Udi (Day Break in Udi), dirigido por Terry Bishop. O filme retrata a Nigéria colonial, que passa por uma crise de identidade. Há um conflito entre pessoas progressistas e a liderança tradicional. Dois jovens professores africanos querem construir uma modernidade, um símbolo de modernização. O representante britânico dá seu aval, mas um nigeriano mais velho acredita que a maternidade seria uma afronta tanto para a tradição quanto para a cultura do vilarejo, e tenta persuadir pessoas a barrar a construção. Embora o hospital fosse desejável, o documentário tem algo de premonitório - de fato, três décadas mais tarde, a partir do início da globalização, culturas e tradições locais começariam a ser desconstruídas, em favor da construção de um ideal de homogeneidade - o da era do consumo.

Fonte:Planeta Sustentável