Muitos bichos e
plantas nascem em um lugar, mas acabam indo para outro. E, quando chegam a
novas regiões, querem dominá-las e podem até levar as espécies nativas à
extinção. Todos devem ficar atentos para não aumentar o problema
Espécies nativas são todos os exemplares
animais e vegetais que se desenvolveram e evoluíram num certo ambiente. A Mata
Atlântica, por exemplo, é composta por espécies que têm milhões de anos de
evolução num mesmo local, por isso, chegaram a um equilíbrio, ou seja,
aprenderam a compartilhar recursos disponíveis como espaço, água e nutrientes
do solo. Ninguém briga por causa disso.
Já
as espécies exóticas (invasoras) funcionam de forma bem
diferente. Elas são naturais de uma região, mas passam a viver em outra por
diversos motivos que veremos a seguir e causam desequilíbrios e queda na biodiversidade. “O problema é que elas não vêm para conviver,
mas para dominar”, diz Sílvia Ziller, doutora em Conservação da Natureza e
diretora-executiva e fundadora doInstituto Hórus de Desenvolvimento e
Conservação Ambiental.
Eles passam de um local para o outro principalmente por causa do comércio global e do transporte de espécies de um canto para outro dentro do mesmo país. A goiabeira é nativa do México e da América Central, mas é encontrada em abundância no noroeste do Paraná, no Brasil. Mesmo as espécies brasileiras podem causar problemas porque se tornam exóticas quando não pertencem ao ambiente em que estão. É o caso do sagui, típico no nordeste, mas que constitui população expressiva em São Paulo e no Rio de Janeiro por causa do tráfico de animais. Os macaquinhos também são encontrados em Florianópolis e Curitiba onde comem ovos, pássaros e destroem os ninhos, além de se reproduzirem em grandes quantidades.
As
plantas ornamentais, usadas para enfeitar jardins e casas, representam boa
parte desse movimento de seres vivos que invadem novos ambientes: uma a cada
quatro unidades é uma planta ornamental que alguém achou bonito e resolveu
levar para casa e cultivar ou vender.
As
espécies nativas são naturalmente suscetíveis a doenças locais e a outras
condições que estabelecem equilíbrio. Por exemplo, se uma árvore produz muitas
sementes, existem muitos bichinhos que as comem e mantém tudo no devido lugar.
O mesmo não acontece com o que é original de outros lugares e, ao chegar em
ambientes novos e fazer dele sua nova casa, não tem inimigos naturais, por
isso, cresce muito facilmente. Esses animais e plantas são considerados
invasores porque se reproduzem mais do que as espécies nativas e são agressivos
a ponto de expulsar essas espécies que estavam ali há muito tempo.
Mas
não precisa pensar que os tais invasores são bichos feiosos, com unhas afiadas
e a cara de mau. É grande a variedade que engloba até mesmo flores, cachorros e
gatos fofinhos. Quando seus donos não desistem de cuidar desses animais
domésticos e os abandonam na rua, eles passam a caçar lagartixas e passarinhos
que vão desaparecendo do local. E como ficam os outros bichos que também se
alimentavam deles?
Tartaruga Tigre d'água: bonitinha, mas invasora |
“As
pessoas nunca devem soltar animais de estimação na natureza. Eles devem ir para
o zoológico, voltar para o pet shop ou serem doados para alguém que goste e
cuide do bichinho”, explica Sílvia. Uma espécie invasora bem comum é uma
tartaruguinha conhecida como Tigre d’água (ela ilustra esta reportagem),
natural dos Estados Unidos, mas muito encontrada por aqui.Em geral, ela é vendida bem pequena, com 5 centímetros, mas cresce, atinge
cerca de 25 centímetros e não cabe mais no aquário. Aí as pessoas soltam o
animal na água. “Trata-se de um grande competidor de espécies nativas que causa
danos ao meio ambiente”.
COMO VOCÊ PODE AJUDAR
O primeiro passo, que vem antes da recomendação de não soltar os bichinhos na natureza e nas ruas, é escolher melhor quais espécies serão introduzidas e disseminadas em determinada região. Uma ferramenta que irá ajudar a combater esse problema está sendo desenvolvida pelo Ministério do Meio Ambiente, uma análise de risco que será inserida em um programa nacional para conter essas pragas.
O primeiro passo, que vem antes da recomendação de não soltar os bichinhos na natureza e nas ruas, é escolher melhor quais espécies serão introduzidas e disseminadas em determinada região. Uma ferramenta que irá ajudar a combater esse problema está sendo desenvolvida pelo Ministério do Meio Ambiente, uma análise de risco que será inserida em um programa nacional para conter essas pragas.
Outras
medidas são a educação e a informação pública para as pessoas saberem que esses
problemas existem e que a grande contribuição é não ajudar a espalhar tais
espécies em locais impróprios. “Mesmo nos cursos de Biologia, os estudantes têm
pouca informação sobre o assunto. Então, muita gente acaba plantando coisa
errada e devolvendo animais para a natureza de maneira inadequada por falta de
informação”, conta Sílvia.
De acordo com a pesquisadora, as espécies invasoras
têm principal impacto negativo na biodiversidade, mas também prejudicam a saúde
humana, a cultura e a economia. “Estima-se que, em termos mundiais, os
prejuízos agrícola, de saúde e no meio ambiente sejam de US$5 trilhões, ou
seja, 5% do PIB - Produto Interno Bruto (a soma da riqueza de um país)
mundial”.
Fonte: Manoella Oliveira,
Planeta Sustentável, foto da tartaruga: Rafael Campos.
Fotos: Oficias no Projeto
Cheirinho de Mato com o prof. José Bezerra.